segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PAPUS: MÉDICO, ALQUIMISTA E MAGO

O MÉDICO ALQUIMISTA

Por Alex Alprlm

PAPUS foi um dos maiores estudiosos das ciências ocultas do século 19. Sua genialidade e dedicação marcaram sua vida, e ele deixou um vasto conjunto de obras que abrangem os vários caminhos que levam o homem a se conectar à sua natureza divina.



EXISTEM HOMENS SOBRE OS quais não basta simplesmente dizer quando nasceram; ou o que fizeram durante sua existência física. Seu trabalho segue em

tantas direções e possui um impacto tão profundo no saber da humanidade que é necessário ir além do relato biográfico.

PAPUS é um desses homens, mas como temos de iniciar num ponto, façamo-lo a partir de seu nascimento. Ele veio ao mundo no dia 13 de julho de 1865, em La Corufia, Espanha, com o nome Gérard Anaclet Vincent Encausse. Sua mãe era uma cigana espanhola, Irene Perez; seu pai, Louis Encausse, era um químico francês.

Dessa forma, ele já nascia tendo no sangue a magia do povo cigano unido à tradição química francesa que, por sua vez, tinha profundas origens na alquimia européia do século 17. Em sua casa também viveu num ambiente favorável ao estudo das artes divinatórias, como o tarô e o estudo da alma humana. Pode-se dizer que a espiritualidade em PAPUS veio do berço.



Em 1869, mudou-se com a família para Paris, onde iniciou seus estudos regulares no colégio Rollin. Sua inclinação para a medicina surgiu ainda jovem, e aos 17 anos foi para a famosa Faculdade de Medicina de Paris. Ainda assim, apesar de toda sua dedicação aos estudos da razão e das ciências em sua essência mais materialista, não se afastou dos conhecimentos esotéricos.

Na verdade, ele nunca se afastou do ocultismo, o que pode ser verificado a partir dos relatos de alguns companheiros da época. Enquanto muitos jovens estavam vivendo a intensa efervescência política pela qual atravessava a Europa, ele passava grande tempo na Biblioteca Nacional de Paris ou na Biblioteca do Arsenal (que possuem imensos acervos de obras ocultistas) estudando tudo que pudesse revelar os caminhos da alquimia e da cabala e o conhecimento para se atingir o saber das Chaves Divinas.

Além da agitação política, no século 19 a Europa também vivia um grande florescimento esotérico; um sem-número de sociedades filosóficas surgiam. Um dos destaques foram os trabalhos de Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803), que ficaram conhecidos como "Os Filósofos Desconhecidos". PAPUS afirmou ter recebido o conhecimento "martinista", ou seja, de Saint-Martin. Segundo documentos da época, PAPUS foi iniciado por Henri Delaage, em 1882.

Aos 22 anos, escreveu sua primeira obra, que se tornaria um marco para todos que pesquisavam a base das ciências ocultas no ocidente: O Ocultismo Contemporâneo. Mas ele não parou por aí: aos 25 anos, já era uma celebridade na França e conhecido em vários países, tendo publicado Tratado Elementar de Ciências Oculta, Tarot dos Boêmios, Tratado Metódico de Ciência Oculta, A Cabala e Tratado Elementar de Magia Prática.

Esse ímpeto de conhecer, estudar e se aprofundar em todas as ciências não tardaria a levar o jovem PAPUS a uma jornada literária. Escrevendo continuamente durante várias décadas, sua produção chegaria a mais de 160 títulos, abordando todos os campos do conhecimento ocultista e médico.

Sua mente agitada e a intensa dedicação ao estudo do oculto levaram-no a fundar uma nova sociedade de estudos. A idéia era que esse grupo não apenas complementasse sua ânsia de aprender, mas também reunisse pessoas que estivessem sintonizadas com os grandes ideais da humanidade e divulgassem a espiritualidade. Foi assim que, em 1889, surgiu o Grupo Independente de Estudos Esotéricos (GIDEE), que mais tarde se tornaria a conhecida Escola Hermética.



PAPUS também iniciou a publicação das famosas revistas A Iniciação e Véu de Ísis, que divulgavam estudos e textos sobre as ciências ocultas e estabeleciam um contraponto ao materialismo que tomava de assalto as instituições de ensino, tanto na França quanto em outros países, com o objetivo declarado ou não de acabar com as trevas da ignorância espiritualista.



APESAR DE TODA SUA dedicação ao mundo ocultista, PAPUS não abandonou suas obrigações como médico e trabalhou nos hospitais de Paris. Defendeu sua tese de medicina - A Anatomia Filosófica e Suas Divisões, a qual foi elogiada pela profundidade e clareza com que foi elaborada.

Posteriormente, defendeu. outra tese, Compêndio de Fisiologia Sintética, tão elogiada nos meios acadêmicos quanto a anterior. Sua dedicação à medicina e seus escritos de fisiologia mostravam um homem que absorvia tanto saber quanto era produzido pelo mundo.

Nos sábios de tempos passados ele foi buscar os caminhos da cura e das ciências perdidas. O grande Paracelso foi um exemplo para o jovem buscador que, assim, iniciou uma série de viagens pela Europa, percorrendo bibliotecas, questionando estudiosos do oculto e os homens da razão. Conheceu curandeiros, médicos, teve contato com a homeopatia e estudou tudo o que lhe caísse às mãos. Sem preconceitos, foi até os limites da ciência, por mais obscura que fosse. Além de procurar compreender os princípios mecânicos do funcionamento do corpo, PAPUS tentava, por meio da cabala e da alquimia, descobrir outros aspectos da saúde e da cura, antevendo nas ciências ocultas a chave para o tratamento dos males que afligiam a humanidade.

Existem curas creditadas a ele que beiram o milagroso. Diz-se que ele sabia das doenças, causas e reações dos pacientes sem que estes lhe dirigissem a palavra, assombrando a todos com a exatidão de suas observações. E muitos casos se resolviam enquanto PAPUS conversava com seus pacientes: dores sumiam, mal-estares desapareciam, sem a utilização de remédios.

Ao examinar um doente e dar o diagnóstico, PAPUS analisava seu campo astral e, depois, usava uma técnica semelhante às técnicas energéticas orientais; ele aplicava uma "força-vital" que reequilibrava a psiquê e a fisiologia da pessoa, restabelecendo a saúde do doente.

Segundo seus escritos, existiam as doenças do corpo (material), do astral (mental) e do espírito (espiritual), e para cada uma delas existe um conjunto de técnicas e remédios possíveis. Por exemplo, as doenças do corpo podem ser curadas pela medicina dos contrários (alopatia); já as doenças do astral são tratadas pela homeopatia; as doenças do espírito são curadas pela força da oração e da magia, desde que o problema não tenha nascido como resultado de uma questão cárrnica, pois isso está fora da alçada apenas do curador: o paciente deve ser parte ativa na cura, e o curador age apenas como um guia.

A Medicina Oculta (os conhecimentos que permitem agir além do plano físico na cura dos pacientes) era parte integrante das técnicas de PAPUS, pois é relatado que ele curava a distância, usando para isso objetos pertencentes aos doentes, fossem suas excreções ou objetos próximos a eles; além disso, diagnosticava usando seus dons paranormais, que iam da clarividência a viagens à distância, provavelmente usando seu corpo astral.

Praticou de tudo. Conectou-se a linhas de trabalho que iam da alopatia à hipnose. Pode-se dizer que foi o

percussor do holísmo, pois não dispensava uma análise integral do ser humano para achar a causa das doenças, e as tratava como algo mais do que uma disfunção física, mas sim como uma questão que envolvia os corpos sutis em comunhão com o universo físico

ALÉM DE ESTUDAR E PRATICAR os aspectos mais obscuros das ciências místicas, PAPUS procurava conhecer o legado da antiguidade egípcia e os mistérios dos gregos e romanos. Concluiu que, na verdade, o bem-estar do homem e o seu grau de desenvolvimento material refletiam o quanto este estava envolvido com a Iniciação aos planos superiores de existência.

Dessa forma, ele acreditava que a máxima dita no Templo de Delfos - "conhece-te a ti mesmo, que conhecerás o Universo e os deuses" - seria a grande chave mística para toda a humanidade e para a cura dos grandes males que a assolam.

O nome PAPUS - que significa "o médico da primeira hora" -, foi baseado em upl nome que surgia na conhecida obra Nuctameron, escrita pelo sábio da Antigüidade, Apolônio de Tiana. E é um nome que representa muito bem o que foi a vida de PAPUS, pois também significa aquele que não mede sacrifícios para cumprir o seu papel de curador e conselheiro, estando preparado para ajudar o próximo a qualquer hora.

PAPUS se consagrou ao estudo de como a chamada Luz Astral tch'i, para os chineses; energia astral, para os praticantes da New Age)

age em nossos corpos, e do papel da mente e suas relações com o homem. Suas pesquisas iam desde fenômenos hipnóticos, espíritas e parapsicológicos, sempre com o objetivo de unir a mais alta razão científica aos mistérios do ocultismo.

A Escola Hermética, a qual fundara anos antes, reunia os mais famosos ocultistas de que se tem notícia, numa época áurea da humanidade em que tantos desbravaram a antiga sabedoria do mundo místico e esotérico. Homens como Stanislas de Guaita (1861-1897), entre outros, fizeram parte do grupo de PAPUS e recrutavam outros membros para a ordem, criando uma rede de pessoas dedicadas à elevação da humanidade com um todo.

PAPUS faleceu em 25 de outubro de 1916, aos 51 anos de idade. Seu maior legado foi uma vida inteira dedicada aos seres humanos e, especialmente, voltada para explorar os caminhos do espírito, sempre demonstrando imensa compaixão e um amor pelo conhecimento.




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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O MAGO SIMÃO

Por Gilberto Schoereder
Às vezes considerado pelos cristãos primitivos como o primeiro herege, outras como um mago de imenso poder, Simão também está associado ao gnosticismo.

SIMÃO É CITADO EM ATOS DOS Após¬tolos (8:9-24, às vezes traduzi¬do como Simão, o mágico), da cidade de Samaria, onde tenta oferecer dinheiro aos apóstolos em troca de suas habilidades miraculosas, especialmente a da imposição das mãos. Assim, ele surge como primeiro herege. A palavra "sirnonia", significando a compra ou venda ilícita de coisas espirituais como indulgências e sacramentos, está liga¬da à suposta atitude de Simão.
Segundo se diz, existem fragmentos de textos atribuídos a Simão, ou a um de seus seguidores usando seu nome, chamados Apophasis Megale. Diz-se que Simão possuía a habilidade de levitar e voar quando desejasse, assim como existem acusações de que ele era um demônio em forma humana, ou mesmo um deus em forma humana, segundo algumas seitas gnósticas. Como se pode perceber, a história muda de acordo com o ponto de vista.


Alguns pesquisadores entendem que as histórias envolvendo Simão Mago são equi¬valentes, em seu tempo, às lendas sobre Merlin, na Idade Média. Se for confirmado que ele era um dos últimos gnósticos, deve ter vivido por volta do ano 300, mas não existem informações concretas a esse res¬peito. Da mesma forma, para grande parte dos autores, Simão foi um antecessor dos gnósticos, e não um dos últimos.
Diz-se que o livro apócrifo Atos de Pedro traz uma lenda a respeito da morte de Simão, que estava realizando magia e, para provar a si mesmo que era um deus, saiu voando. O apóstolo Pedro rezou para que Deus parasse o vôo; ele parou no ar e caiu, quebrando as pernas. A multidão, então, o apedrejou até a morte. Sutil e, claro, parcial.


Na versão cristã sobre Simão, ele teria se convertido ao cristianismo após o encontro com os apóstolos, e teria trabalhado como missionário, mas novamente tentado comprar dos apóstolos o poder de se comunicar com o Espírito Santo.
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

JOHN DEE

O Mago da Corte

EXISTEM ALGUMAS Personalidades que despertam a atenção tanto dos pesquisadores de fatos e fenômenos insólitos quanto dos historiadores. John Dee certa¬mente é uma dessas pessoas.
Para os historiadores, ele foi um cientista influente na Inglaterra, especialmente sob o reinado de Elizabeth I. Para os ocultistas e pesquisadores da história da magia, foi uma pessoa particularmente do¬tada no aspecto psíquico, ca¬paz de entrar em contato com seres espirituais e, talvez, até mesmo com os anjos.
Nascido em Londres, em 1527, Dee teve acesso ao melhor ensino da época, aprendendo grego, latim, filosofia, geometria, aritmética e astronomia.

Em 1555, no reinado da rainha católica Mary, Dee foi preso, acusado de bruxaria, ou de "calcular", sendo libertado três meses depois. Alguns historiadores dizem que, nessa época, na Inglaterra, a matemática era considerada o equivalente a ter poderes mágicos. A rainha Mary morreu em 1558 e, quando a protestante Elizabeth I se tomou rainha, Dee caiu em suas graças, o que levou os historiadores à hipótese de que Dee fosse um espião de Elizabeth durante o reinado de Mary.


Um de seus livros mais conhecidos é o Monas Hieroglyphica, publicado em 1564, que tanto é visto como um tratado enigmático a respeito da linguagem simbólica, quanto um trabalho esotérico inspirado diretamente por Deus, escrito em 12 ou 13 dias, em estado de êxtase místico. O próprio Dee escreveu que era apenas a "pena de Deus", cujo espírito escreveu aquelas coisas através dele. O livro se refere à mônada ou unidade essencial do universo, expressa num hieróglifo ou símbolo.
Em 1581, Dee já estava realizando suas experiências em cristalomancia, usando um cristal para concentrar sua mente e observar os espíritos. Depois, ele afirmou ter conseguido entrar em contato com o anjo Uriel, que lhe forneceu um pedaço de cristal convexo para propiciar uma comunicação mais efetiva com o mundo dos espíritos.
Depois de usar o cristal algumas vezes, ele descobriu que não conseguia se concentrar e anotar as informações que obtinha ao mesmo tempo, e que precisaria de alguém, um médium, para ajudá-lo. E foi assim que começou a trabalhar com Edward Kelly (1555-1593), outra figura misteriosa da época; diz-se que chegou a ser conde¬nado ao pelourinho, por falsificação, posteriormente tomando-se alquimista e um médium conhecido.
Dessas supostas conversas com anjos e espíritos, surgiu uma linguagem própria, elaborada a partir de informações fornecidas pelos próprios anjos. Dee chamou-a de "linguagem enoquiana",
Alguns pesquisadores acreditam que, numa série de livros, John Dee chegou a registrar assombrosas visões do futuro.
Dee morreu em 1608, alguns anos após perder a esposa e vários de seus oito filhos na peste que assolou a Inglaterra.

Fonte: Sexto Sentido


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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

HERMES TRISMEGISTOS

Gilberto Schoereder

Seu nome significa "Hermes, o três vezes grande", e é um dos mais conhecidos entre esotéricos, ocultistas e magos de todo o planeta.

GERALMENTE, HERMES TRISMEGISTOS É tido como o nome de um conjunto de pessoas responsáveis pela elaboração de textos que formam a base do hermetismo e que seriam o resultado de milhares de anos de conhecimento oculto da civilização egípcia. Outras vezes, seu nome é associado a uma pessoa específica, um grande conhecedor dos segredos ocultos; e ainda, é vinculado ao deus egípcio Thot que, como o deus grego Hermes, era o deus da escrita e da magia. Assim, muitos estudiosos entendem que os dois deuses foram combinados para formar Hermes Trismegistos, o patrono da astrologia e da alquimia.

Segundo o historiador da magia e pintor surrealista Kurt Seligmann (1900-1962), o deus Hermes era um deus dos colonos gregos no Egito, que haviam identificado os deuses gregos com os deuses de sua terra de adoção. Ao humanizarem Thoth/Hermes, transformando-o num rei lendário que governou por 3.226 anos, também se passou a dizer que ele tinha escrito dezenas de milhares de livros sobre as leis gerais da natureza. Posteriormente, esses números foram diminuídos para 42 livros que, na verdade, eram escrito anônimos sobre a filosofia egípcia, sob o ponto de vista dos gregos. Eles foram, então, atribuídos a Hermes Trismegistos e vieram a formar a base do hermetismo.

A designação hermetismo (ou hermética) foi bastante utilizada na Europa principalmente na Idade Média e Renascença, representando uma variação da alquimia, magia, astrologia e filosofia, repleta de símbolos e metáforas.

Com o "renascimento" do interesse por Hermes Trismegistos durante a chamada Nova Era, muitos ocultistas modernos passaram a sugerir que os textos têm origem no tempo dos faraós e que os 42 livros originais e essenciais contendo o principal do conhecimento, filosofia e crenças religiosas da época continuam erdidos ou escondidos. Mas os historiadores não sustentam essa versão.


Hermes Trismegistos é considerado um grande mago. Na ver­dade, para os egípcios ele era a encarnação do deus Thoth


Egdar Cayce (1877 -1945) também citou Hermes ou Thoth como um engenheiro proveniente da Atlântida, responsável pela construção das pirâmides do Egito.

fonte: Grandes Magos - nº 24 - Sexto Sentido Especial



Os escritos herméticos:
Os escritos herméticos são uma coleção de 18 obras Gregas, e as principais são o Corpus Hermeticum e a Tábua de Esmeralda, as quais são tradicionalmente atribuídas a Hermes Trismegisto ("Hermes três vezes grande"). Estes escritos contêm os aspectos teórico e filosófico do Hermetismo em seu aspecto teosófico. O período bizantino é marcado por uma outra coleção de obras herméticas, que também são relacionadas ao Hermes Trismegisto, e contêm uma tradição hermética popular a qual é composta essencialmente por escritos relacionados a astrologia, magia e Alquimia. Esta versão popular encontra sustentação ou base nos diálogos Hermeticos, apesar dele se distanciar da magia.

A prática da magia entretanto não está distante das praticas realizadas no antigo Egito, a qual em uma última análise é a fonte de todos os diálogos herméticos, pois o hermetismo lá floresceu, e portanto estabelece uma conexão entre as duas tradições Hermeticas: filosófica e magia.

O livro Caibalion foi escrito no final do século XIX por três iniciados que registraram as Sete Leis do Hermetismo. Não é um livro oriundo da era pré-cristã como se supõe.

O hermetismo consiste, de forma sincrética, no estudo e prática da evolução e expansão da consciência humana até à Consciência divina, penetrando assim nos mais profundos mistérios da Criação, o que ficou conhecido como iniciação ou iluminação no Oriente.
Fonte: Revista Sexto Sentido


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Austin Spare

AlexAlprlm
AUSTIN SPARE CAMINHAVA entre os espaços místicos e as dimensões do subconsciente. Não raras vezes, ele demonstrava uma genialidade artística incomum, enquanto vivenciava as muitas faces ocultas da magia e do sobrenatural como se estivesse sobre o fio de uma navalha, sem jamais cair nas divisões maniqueístas e racionais. Ao contrário do que pode parecer, Spare não era indeciso. Muito pelo contrário. Ele seguiu por caminhos que muitos de seus conhecidos consideravam perigosas demais para o ser humano comum.

Filho de um policial londrino, o ocultista veio ao mundo na cidade Snowhill, em uma hora incerta, segundo ele próprio dizia. Não sabia para que lado estava olhando Janus, o deus romano de duas faces, no momento em que lhe deu à luz: se de frente ou de costas, pois nasceu na exata passagem de 1886 para 1887.


Curiosamente, Spare representa exatamente isso: uma grande genialidade aliada a um espírito intenso e forte, perturbado por visões que o levavam a seguir instintos e idéias pouco convencionais para sua época.
Durante toda a vida ele se empenhou em uma intensa busca espiritual, mas não através da espiritualidade que vemos nos meios místicos hoje em dia. Sua busca seguia na direção da magia pura e prática, dos prodígios e dos poderes ocultos.


Essa procura surgiu bem cedo, do contato que Spare teve com uma velha mulher, supostamente descendente de uma linhagem das bruxas de Salem que os inquisidores falharam em exterminar. Ele se dirigia a ela de forma carinhosa, como sua segunda mãe, muito embora a chamasse de sra. Peterson quando a mencionava em suas obras. O mago dizia que através de seus ensinamentos havia conseguido ultrapassar a compreensão que se tinha da verdadeira magia na época. Segundo seus relatos, a sra. Peterson possuía poderes que raríssimas pessoas desenvolvem durante a vida - poderes que a ioga tradicional chama de siddhis. Devido a sua pobre educação, ela possuía um vocabulário restrito, que geralmente se limitava ao básico. Porém, quando procurada para fazer previsões e não tinha palavras para descrever o que estava vendo, ela simplesmente materializava o objeto em um canto da sala. Isso aumentou ainda mais o interesse de Spare pelo oculto, motivando-o a buscar um sistema mágico que permitisse a realização de tais feitos.
Esse interesse já existia desde sua adolescência, quando ele usava um processo denominado "sigilos" - símbolos, grafismos ou mantras que o permitiam dominar forças mágicas, elementais e outras energias mais sutis.
Com isso, Spare podia influenciar fenômenos naturais e uma série de outros acontecimentos. Esse fato é lembrado pelo poeta Yeats em seu O Tremor do Véu, no qual descreve como o mago desenhava os eventos que desejava ver realizados. Na época, esse procedimento era chamado "magia instintiva" .
Com 17 anos, Austin Spare demonstrou seu controle sobre esse tipo de magia usando "sigilos" para provocar uma intensa chuva em um dia ensolarado, a pedido do reverendo Robert Benson, escritor de textos e novelas de cunho místico. Outros eventos considerados estranhos ocorreram quando, a convite de Benson, Spare realizou um teste com Everard Fielding, secretário da Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Nesse teste, o mago provocou, por meio dos seus "sigilos", a realização do desejo de Fielding, que ficou extremamente impressionado com os poderes demonstrados.


AUSTIN SPARE TAMBÉM Tinha um talento incrível para a arte, num período de intensa criatividade artística em toda a Europa, destacando-se e sendo comparado aos grandes expoentes de sua época, inclusive aclamado como o mais jovem artista a expor na Royal Academy.


Chegou a trabalhar como artista de guerra, retratando a situação médica dos campos de batalha - algo de acordo com os parâmetros que nortearam seus quadros, repletos de imagens de morte, dor e prazer. As pinturas e desenhos sempre revelavam mais do que simples traços e representações, mostrando seu empenho em descobrir e praticar uma forma diferenciada de magia, na qual a sexualidade e o mundo dos espíritos se entrecruzavam.
Além disso, o feiticeiro também foi um precursor dos desenhos e escritas automáticos, mas de forma diferenciada ao que vemos hoje em diversos círculos místicos nos quais entidades são canalizadas: seu sistema antecipava o movimento surrealista como técnica literária e artística. Sua obra foi influenciada por pensadores como Nietzsche (1844-1900) e Hans Vaihinger (1852-1933).



Este '" último é o autor de Philosophie des Als Ob (Filosofia do Como Se); ele dizia que os humanos nunca poderiam conhecer a realidade
fundamental do mundo e, assim, constroem sistemas de pensamento e depois supõem que eles correspondem à realidade. Em outras palavras, nos comportamos "como se" o mundo é compatível com o modelo que imaginamos. Essa visão seria o ponto central do entendimento de Spare sobre o mundo.


Em seu trabalho artístico, o mago também mantinha comunicação com forças espirituais, afirmando ver de relance os seres que entravam em contato com ele. Por diversas vezes, Spare colocou no papel as suas impressões depois de ter contatos com essas energias, e muitas ilustrações mostravam claramente atos sexuais e outras manifestações de cunho erótico, que acabaram por estigmatizá-lo como um maníaco.
A arte de Austin Spare sempre retratou o mundo místico e o mundo do prazer. Em vida, ele publicou O Livro do Prazer (1913), em que descrevia o uso das energias sexuais na magia e na obtenção dos desejos. Essa obra é extensamente ilustrada com desenhos que mostram várias vezes o que parecem ser espíritos de mulheres e homens em atividades sexuais.
Em 1956, data de sua morte, o mago deixou uma obra inacabada da qual restou tão somente um manuscrito conhecido como Grimório Zoé-
tico de Zos, no qual estariam todas as receitas e idéias que a sra. Peterson lhe teria legado, além de fórmulas e sistemas criados por ele no seu caminho mágico.


Apesar de toda a sua genialidade artística, Spare angariou um grande número de inimizades devido à temática de morte, horror e erotismo nos quadros que produzia, além de sua fama de libertino. No fim da vida, ele estava tentando vender seus desenhos nos ba- res de Londres.
A MARCA DEIXADA POR SPARE não está em sua personalidade controvertida ou nas obras artísticas, mas em sua doutrina mágica, que nasceu e floresceu no ambiente mais propício da história mágica moderna.


Suas idéias, influenciadas pela intensa atividade literária e cultural da época, abriram novos caminhos para os estudiosos do oculto. Ele se juntou a Aleister Crowley na sociedade secreta Austrum Argentum (A. A.), mas a união dos dois não durou muito - um dos principais pontos de discordância entre ambos relacionava-se à estruturação do saber mágico. Para Spare, tudo o que era complicado demais para se entender ocultava a verdade mágica, e os objetivos da magia deveriam ser práticos. Já Crowley era um aristocrata versado em várias línguas e possuía profundos conhecimentos de cabala hebraica e dos complexos rituais de outras ordens das quais fazia parte. O embate natural levou-os a caminhos separados, mas Crowley considerou Spare seu aluno até a morte, especialmente porque o sistema criado por Spare ba-seava-se em outros trabalhos de Crowley, como o Líber al Vegis, o Livro das Mentiras e Equinox.
Spare desenvolveu várias ferramentas para atingir seus fins mágicos, criando um alfabeto que denominou de "alfabeto do desejo", ou "alfabeto sagrado", feito a partir de uma série de desenhos com características claramente sexuais, usado para atingir estados alterados de consciência e realizar seus "sigilos".


Ele sentia que o universo de deuses e espíritos que permeia nossa realidade é, em muitos casos, criação de nossos desejos mais primevos, nascidos de uma sexualidade contida no inconsciente. Ele vislumbrou a forma de ativar essas forças, que chamou de atávicas. Seu sistema de magia recebeu o nome de zos-kia (zos é o próprio corpo; kia é a crença primordial no deus interior). Em outras palavras, Spare dizia que nós somos deus e que todos os deuses externos só existem no momento em que nós os criamos, podendo, portanto, serem mortos. É uma magia baseada em dois princípios: a vontade e a imaginação.
Certa vez, dois amigos seus insistiram para que ele demonstrasse a existência dos seres atávicos, pedindo que invocasse um deles naquele instante. Spare tentou demovê-los da idéia, explicando que essas formas vêm
do inconsciente e que podem ser nada amistosas, além de possuírem um poder ainda desconhecido. Mas eles insistiram e Spare preparou um "sigilo", que posicionou em sua fronte. Em seguida, caiu num torpor. Alguns minutos depois, segundo as testemunhas, a sala se encheu de uma fumaça esverdeada e nauseante. Dois olhos e uma face não-humana se formaram num canto da sala. As pessoas começaram a gritar e a pedir que Spare mandasse aquilo embora. De repente, tudo sumiu e ele voltou a si, reafirmando que o que haviam visto era algo que vinha das profundezas do inconsciente.


Sem dúvida, Austin Spare foi um gênio, tanto nas artes quanto na magia. Seus trabalhos eram requisitados por todas as grandes personalidades do mundo mágico da época, como Gerald Gard ner (1884-1964), o criador da Wicca, Kenneth Grant, o grande expoente da Thelema de Crowley, e muitos outros.
Seu sistema mágico sobreviveu e hoje é conhecido como "magia do kaos", pois suas bases estão alinhadas com os trabalhos mais avançados da física e da matemática atuais, como a matemática do caos e a teoria dos fractais.
Seguindo sua própria filosofia, e ao contrário de Crowley, Spare nunca almejou ser adorado pelos que o seguiriam com o sistema zoskia, algo que o diferencia da grande maioria dos grandes magos do século 20


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